Michael Jackson é cinquentão

A idade chega não quando fazemos aniversário, mas quando observamos as pessoas à nossa volta envelhecendo. Michael Jackson e Madonna têm cinquenta anos, fifty-fucking-years, e nós aqui, fingindo que somos telespectadores imparciais, sentados no nosso sofá, começamos a dizer: “ah, a Madonna tá envelhecendo, ela não é como antes, o Michael Jackson sempre foi um freak, etc e tal” e perdemos a noção de quem eles realmente são. No meio de tudo isso, é triste procurar por referências sobre MJ e encontrar, em cada dez notícias, oito sobre pedofilia, escândalos e processos.

A grande passo adiante na carreira de MJ foi a colaboração com Quincy Jones. O álbum Off the Wall tem uma das melhores músicas dançantes de toda a década de 80 (Don’t Stop Till You Get Enough) – que muita gente mais nova aí só conhece a parte que passava na abertura do Video Show. Os gritos, a mistura de vozes e a harmonia são inconfundíveis.

Seu segundo álbum pela Epic, Thriller, está no meu top 10 de melhores discos de todos os tempos. Sucessos como Billie Jean, Beat it ou Thriller abriram as portas da MTV para um negro no mundo do pop, algo raríssimo na época. Lembrando apenas que a MTV mudou o mundo da música e a forma como a acompanhamos. Se repararem, até o começo dos anos 80, um “videoclip” (se é que podemos chamá-lo assim) era uma filmagem de um artista ou uma banda cantando/dançando. Tirando devidas exceções artísticas que se permitiam algo mais, como Pink Floyd ou Beatles – e mesmo assim o vídeo era usado nesses casos como suporte de transmissão de música e não como um bit de mensagem de 3 minutos que deveria ser original e diferente do anterior, e do anterior e do anterior.. A MTV veio mudar tudo isso.

E até aí Michael foi revolucionário, abrindo as portas da MTV para um artista negro e para um vídeo de mais de 5 minutos. E valia a pena cada segundo. Ainda hoje me lembro de ver a chamada do Cid Moreira no Fantástico para o clip de Thriller: “As pessoas sensíveis e as crianças devem evitar ver as cenas que se seguem”. Vi o vídeo com uma toalha na cabeça atemorizado mais pelo tom assustador do Cid Moreira do que pelas caretas de MJ. Tempo de inocência da televisão brasileira. Hoje em dia olha só quem dança Thriller (se bem que a mãe cortou a parte mais “assustadora” 😉 )

Não há como negar que MJ dançava muito.

Em 1983,  num especial para a Motown, com a plateia repleta de estrelas dos anos 60 e 70, Michael Jackson fez pela primeira vez o Moonwalk, o passo que já era feito pelos dançarinos de rua mas que MJ fez questão que Jeffrey Daniel o ensinasse a fazer. No entanto, o passo que conhecemos como Moonwalk se chama Backslide, já que o verdadeiro Moonwalk simula um passo lento para os lados.

Depois disso, Michael se queimou enquanto filmava um comercial de TV e a partir daí tudo começou a ficar muito estranho. Em 1985, MJ volta aos holofotes para gravar e filmar o clássico We are the World. em seguida, volta a trabalhar com Quincy Jones em Bad e o sucesso parece que nunca vai acabar. Dangerous confirma o sucesso, mas o começo dos anos 2000 é o começo de algo que confesso que ainda não entendo.

O resto é história e está mais do que contada. Michael, assim como Elvis, é imitado à exaustão, mas o que o diferencia do rei do rock é que MJ é sempre caricaturado no seu auge, quando dançava melhor, quando cantava melhor, quando era o rei da pop.