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Um retrato do retrato

junho 28, 2011

E dentro daquela cortina empoeirada, revela-se um mundo de sorrisos, poses e sonhos, mesmo antes da verdadeira e derradeira revelação, sobre uma tira de papel químico onde a fisionomia ficará estampada para a eternidade.
Seja por diversão ou por obrigação, todos nós já entramos numa cabine fotográfica para registrar um instante na linha do tempo da vida. O processo é simples. De longe reparamos numa cabine iluminada, com amostras de fotos repetidas ilustrando o que a engenhoca pode fazer por nós. Escolhidos o tipo e a quantidade de fotos, entramos na cabine, fechamos a cortina e ficamos sentados, sozinhos, frente à frente com nós mesmos.
Quase sempre, a pessoa que usou a cabine antes de nós é muito alta, ou muito baixa, o que obriga uma manobra rápida e divertida, de rodar o assento para que ele, tal como um parafuso gigante, se eleve ou se abaixe, permitindo que os nossos olhos estejam corretamente posicionados diante da lente da objetiva.
Hora de colocar a moeda, apertar o botão e esperar os flashes. Ali estamos nós, numa espécie de câmera oculta porém desta vez sabemos aonde ela está, quando vai disparar, e mesmo assim esperamos imóveis o tiro de misericórdia do registro fotográfico.
Se a foto é de brincadeira, podemos colocar duas, três, às vezes quatro pessoas na fotografia e se não ficar bom, bem, não tem como não ficar bom. Como sair, saiu ótimo.
Por outro lado, se a fotografia é para um documento, sentamos formalmente no banquinho, arrumamos a roupa, escolhemos a nossa cara mais oficial, a melhor delas e aí damos autorização para o fuzilamento.
Do lado de fora, aguardamos a luz se apagar para a fotografia ficar pronta. A imagem, biônica e robótica, está ali, cheia de vida e ao mesmo tempo congelada.
O fascínio pode ter sido diluído pelas máquinas fotográficas digitais de hoje em dia, mas quando Anatol Josepho, um siberiano que se mudou para os Estados Unidos no começo do século XX, olhou para as primeiras fotografias saídas da sua invenção, o entusiasmo era incontrolável.
O homem que saiu da Rússia, passou por Berlim, Budapeste, Xangai, chegou nos Estados Unidos em busca de investidores para a sua ideia. Com parentes em Nova York, Anatol conseguiu 11 mil dólares de patrocínio, uma fortuna para a época, cerca de cinco vezes o valor de uma casa. E esse dinheiro era apenas para o primeiro protótipo.
Em 1925 a primeira cabine de fotografia do mundo, abre na Broadway e atrai 8 mil pessoas por dia, afinal, conseguir tirar uma foto quase instantaneamente em meados dos anos 20 é algo que não pode ser desprezado.
Menos de dois anos depois, a patente americana de Anatol é vendida por um milhão de dólares, um lucro mais do que razoável. O russo doa parte do dinheiro aos necessitados da cidade de Nova York e devido às suas origens, é acusado de ser um socialista, assunto tabu durante todo o século passado.
Ao longo das décadas, a cabine tornou-se um símbolo de liberdade, onde era possível fazer (quase) tudo sem julgamentos. A máquina foi adotada por artistas, pelo cinema, pelas repartições públicas e hoje em dia as cabines estão presentes até em casamentos, para animar os convidados e eternizar o momento de uma forma divertida e diferente.
O modelo tradicional, com fotos em preto-e-branco, tem sido substituído por cabines mais recentes, digitais em que o charme é substituído pela eficiência e rapidez, onde podemos escolher entre as melhores fotos. Nada a ver com a incerteza dos flashes fortuitos e os minutos de espera para o resultado final.
Anatol Josepho morreu em 1980, nos EUA, longe da sua terra natal mas próximo das pessoas que acreditaram nas suas ideias. Era um apaixonado pela fotografia, que queria descobrir o mundo e acabou conhecendo pessoas e inventando um novo mundo.

Sempre a Lua

março 24, 2011

Todo o mundo sempre coloca a culpa nela. Teve enchente? Não pegou peixe? O cabelo não cresceu? Acordou mau humorado? O lobisomem te atacou? Tudo culpa da Lua, aquela redondinha que ilumina as nossas noites e que substitui o Sol na árdua tarefa diária de mostrar que afinal não vivemos num cenário e que se por acaso estivéssemos num filme, não seríamos os atores principais.
Durante séculos olhamos para ela com respeito e mistério. Não sabíamos o que existia no seu lado oculto, aliás nem no lado visível. Tivemos que ir lá em cima, pisar e tirar a prova por nós mesmos, tomar posse e gritar “é minha”, apesar de sabermos muito bem que a Lua é de todos e não é de ninguém.
Depois disso, o ser humano abandonou a coitadinha. Ir à Lua? Pra que, meu Deus se a gente já foi lá tantas vezes? Colonizar a Lua? Talvez, mas só se não tiver mais nada pra fazer. Chegamos ao ponto de rebaixá-la na hierarquia dos astros e escrever o seu nome com letra minúscula. Começamos a tratar os corpos celestes com intimidade. O “sol”, a “lua” mas por outro lado, a “Terra”, afinal é onde NÓS moramos e o que importa é sempre o nosso umbigo.
E a Lua, que já inspirou tantos amantes, iluminou tantos navegadores e aconselhou tantas dúvidas foi diminuída à mera coadjuvante das nossas vidas. Sabemos onde ela está, pra que serve e do que é feita, página seguinte.
Mas na semana passada, voltamos a pensar na Lua de uma maneira diferente, simplesmente porque ela estaria mais próxima, mais brilhante e mais bonita. Fotógrafos, cinegrafistas, astrônomos amadores e curiosos, todos tiraram cinco minutos do seu dia para estar do lado de fora, levantar a cabeça e, por alguns momentos, não fazer nada além de olhar para a Lua, tentando achar diferenças de brilho, de tamanho, de cor, para no final poderem dizer que participaram desse momento único.
Emoção, sorrisos, fotos, tudo documentado e guardado. Agora posso contar um segredo. A Lua não estava diferente, ou pelo menos não muito mais do que a maneira como lembramos dela. Para ilustrar, conto um trecho de um episódio da série “Anos Incríveis” em que Kevin Arnold queria faltar na escola e inventou para a mãe que estava com dor de garganta. Ela pede para que seu filho abra a boca e diz “é, realmente parece mais vermelha mesmo” e a voz off de Kevin observa que “felizmente ela não sabia como era a minha garganta normalmente”. Então, se precisamos imaginar que alguma transformação ocorreu para que voltemos a amar a Lua como antes, que assim seja.

Distâncias

janeiro 27, 2011

De longe, São Paulo é feia e cinza. Tem prédios de mais, lixo de mais e gente de mais. Tem praias de menos, palmeiras de menos, lugares paradisíacos de menos. Quando um estrangeiro me pergunta o que existe para se ver em São Paulo, gaguejo antes de começar a falar sobre o parque do Ibirapuera, os teatros, os restauranres, os bares e os cinemas. E ao acabar de descrever o roteiro da cidade para o meu interlocutor não-brasileiro, ele fica com aquele olhar vazio como se eu tivesse respondido “nada”.
Eu entendo. Já me acostumei com a exclamação admirada dos franceses quando falo que sou brasileiro e a transformação da expressão quando digo que sou paulistano. Eles querem sonho, praias e água de coco, querem areia no chinelo, biquinis e pele bronzeada pelo sol.
De perto, São Paulo é encantadora e charmosa. Um charme feio, concordo, mas ainda assim charmoso. Você chega em São Paulo e se apaixona pelas pessoas, pelos lugares, pela agitação constante, pela presença de personagens de filmes em todos os lugares. Você mesmo é uma personagem em cena, no entanto só percebe isso depois, quando não está mais em São Paulo.
Nesse teatro, com tanta gente à volta mas ao mesmo tempo sem nenhum público, sentimos que estamos representando numa peça tragicômica, que pode ser um sucesso, ou não. Tudo depende de você.
Mais de perto ainda, São Paulo assusta. Ruas mal iluminadas, histórias de assaltos, ônibus que não chegam, carros flutuando nas ruas, oito horas para chegar em casa, lixo no chão, paredes pichadas, medo de quem anda atrás de você. A lista pode ser grande, porque o que a cidade tem de gigantesca, tem de complexa. O sonho de ir naquele restaurante badalado, pode ser adiado se chover mais do que duas horas seguidas na capital paulista. Aquela noitada no barzinho na Vila Madalena vai subir no telhado se o busão não passar. Não é fácil.
Mas bem de longe, muito longe mesmo, São Paulo é única. Uma cidade com defeitos, mas com as pessoas perfeitas, com os melhores lugares, os momentos inesquecíveis. De longe, é como acordar de um sonho em que selecionamos apenas aquilo que nos agrada. De longe, criamos a nossa cidade, a nossa São Paulo. Cada um tem a sua, a minha está de parabéns.

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O meu chefe

janeiro 9, 2011

O meu chefe é meio bravo. Ele tem dois olhos meio puxados que às vezes se arregalam quando a gente faz arte. Os olhos dele também piscam quando ele acha que está fazendo algo inteligente. O meu chefe nunca faz nada de inteligente. Acho que é por isso que eu não entendo porque ele pisca tanto. Mamãe disse que algumas pessoas tem tiques nervosos, mas não sei bem o que é isso. Só sei que o meu chefe fica nervoso o tempo todo. Ele fala mal de algumas pessoas de vez em quando mas só quando a outra pessoa não está perto. Deve ser porque ele se preocupa muito com essa pessoa e não quer que ela ouça. O meu chefe tem sempre horários legais e nunca está no trabalho quando a gente precisa. A colega do meu chefe disse que é porque ele está em outros lugares fazendo algo muito mais importante, ou pensando. Os adultos gostam de pensar, mas acho que o meu chefe não gosta muito. Ele sempre pede para alguem pensar por ele, mas acho que ele se arrepende porque no final ele fala que foi ele que pensou. O meu chefe é meio esquecido. Ele sempre pede as coisas em cima da hora e diz que era pra ontem. De vez em quando ele fica bravo porque a gente não faz tudo rapido como deveria ser e somos obrigados a ficar mais tempo no trabalho. Aí eu vejo como ele é esquecido porque no final do mês nunca recebo pelas horas que fiquei depois do expediente. O meu chefe nunca diz bom dia quando chega e nem sempre responde quando a gente fala com ele. Ele é bem compenetrado, pena que ele nunca da risada nem faz brincadeira por causa disso. Eu adoro as férias porque não preciso ver a cara dele. Todo o dia eu torço para o meu chefe faltar mas ele vem sempre. Isso é muito chato.

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Michael Jackson 1958-2009

junho 26, 2009

Minha gata, ainda sem nome, está olhando para a televisão, vendo um clip do Michael Jackson. Minha gata não conhece o Michael Jackson. Minha gata não sabe dançar Moonwalk e nenhuma outra dança. Minha gata não sabe que o Michael Jackson morreu. Talvez seja a única.
Ontem à noite, Carol e eu estávamos jogados no sofá vendo televisão quando a chata da Fátima Bernardes disse que MJ tinha sido internado às pressas depois de um ataque cardíaco. Queixo no chão, fomos procurar na Internet outras notícias sobre o assunto, quando percebemos que a coisa era mais grave do que o Jornal Nacional prudentemente anunciava. Esse é a resposta da pergunta que todos vamos nos fazer nos próximos cinquenta anos, “Onde você estava quando o MJ morreu?”
Mas ainda hoje penso que não pode ser verdade. Não que eu pensasse que ele nunca morreria, mas era algo que não imaginava tão cedo, mesmo com os boatos de uma saúde tão deteriorada. E assistindo televisão ontem, dava para perceber a consternação estampada no rosto de todos os jornalistas e principalmente nos homens e mulheres na faixa dos 30 a 40 anos, pessoas que, como eu, cresceram ouvindo Michael Jackson, amadureceram ouvindo seus escândalos e que começam a envelhecer, involutariamente, com a notícia de sua morte.
Hoje de manhã, acordei e quando liguei a televisão pensava ouvir tudo menos sobre a morte de MJ. Em oito horas de sono muita coisa acontece e sonhamos coisas malucas. Desastres de avião, passeios com colegas de escola de vinte anos atrás, números da loteria, a morte de Michael Jackson, enfim, todo o tipo de coisas sem sentido.
No entanto, era verdade. Já não havia mais suspeitas nem cuidado especial em noticiar o até então impensável: Michael Jackson morreu. Eu, quando escrevi essas três palavras juntas pela primeira vez hoje de manhã no Twitter parecia que estava fazendo uma brincadeira com palavras, escrevendo coisas absurdas e ver como elas ficam no papel. Depois das primeiras três palavras, escrevi outras, até chegar aos 160 caracteres do twitter e dei enter. Confirmei param mim mesmo o que todo mundo já tinha confirmado.
Escrevi um texto em agosto do ano passado sobre os 50 anos de Michael Jackson, com alguns clipes divertidos e representativos da carreira do rei do pop mas o “presente” naquele texto era a decadência dele e nunca imaginava uma morte anunciada. Quando ele anunciou a série de shows em Londres em julho deste ano, sempre imaginei que iria acontecer alguma coisa antes para ele adiar os espetáculos, principalmente depois do adiamento da data dos primeiros shows devido aos atrasos nos ensaios. Aliás, quando ouvi os primeiros boatos sobre a morte ainda pensei que se tratava de um modo de fugir dessa responsabilidade. No fundo todos queremos pensar que MJ tomou o mesmo rumo incerto de Elvis e de Jim Morrison, que, apesar de terem atestado de óbito, lápides e morte confirmadas, mantêm a aura de morte fingida para poder, em algum lugar do mundo, curtir a vida sem mídia, sem fotos e sem fãs.
Nas ruas de Paris, pela manhã, tudo continuava no seu rumo normal, sem evidências de que o rei do pop tivesse morrido. Mentira. Logo quando entrei no metrô de Paris, um jovem com uns 17 anos, fone de ouvido e look rapper dançava e cantava com uns amigos um trechinho de Billie Jean. Nas páginas dos jornais, MJ era de novo notícia e vendia mais uma vez.
Em plena Champs Elysées, entro na loja da Virgin e ouço no máximo volume os acordes inconfundíveis de Don’t Stop Till You Get Enough e o clip passando em quase uma centena de monitores por toda a enorme loja. No hall central, de onde sai uma escadaria majestosa para o primeiro andar, pessoas de todas as idades paravam de comprar para observar hipnotizadas os passos de MJ. Mas dessa vez o olhar não era de contentamento pelo swing do astro mas de uma certa melancolia. A mesma melancolia que todos nós sentimos ontem e hoje, de quem perdeu algo, não um parente, não um amigo, na verdade alguém distante, bem distante de mim e de todos, mas que conseguiu estar em todos os lugares ao mesmo tempo e com todas as pessoas.
Michael Jackson não morreu jovem como Joplin, Morrison, Hendrix ou Kubain, ele tinha quase 51 anos, o que não o torna velho tãopouco. Assim como Peter Pan, MJ não queria envelhecer e as plásticas escondiam as rugas que tanta gente tem medo. Nós, eternos jovens, eternas crianças, também não queríamos ver o nosso rei envelhecendo, queríamos o eterno dançarino, o eterno cantor, o eterno performer, para que, de certa forma, parássemos o tempo para nós também.
Minha gata agora dorme e não está prestando atenção nos detalhes da biografia de Michal Jackson, repetida pela enésima vez na televisão. Minha gata não liga para retrospectivas. Talvez por ser apenas uma gata, mas talvez porque ela já saiba, mesmo sem saber, de tudo o que Michael Jackson foi e significou para nós.

Curtas

junho 17, 2009

Depois das suas últimas declarações, o presidente do Senado, José Sarney resolveu entrar na comunidade do Orkut “Não fui eu, foi meu Eu Lírico”.

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Definição de contagem parcial de votos no Irã: vão contar os primeiros 1000 votos para Ahmadinejad e depois param, se ele continuar vencedor, provam que foi reeleito.

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Twitter imaginário de Sarney: “Não fui eu, já tava assim quando eu cheguei”

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Twitter imaginário de Dunga: “Não fui eu, já tava assim quando eu cheguei”

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O político lá, dando duro, tendo o maior trabalho para manter a honestidade, suando feio por nossa culpa, já que o povo é o obrigou a estar lá, naquele palanque quente e frouxo, indo noite e dia para a labuta árida da política nacional, e nós, meros cidadãos brasileiros por trás da tela de um computador, ficamos aqui atirando tomates na roupa limpa e branca da inocência de quem ocupa um cargo público. Que vergonha, o povo deveria era ser preso por trás de umas grades em casa, todo mundo mesmo, sem exceção, e só ser liberado pra ir votar de quatro em quatro anos. Isso é pra aprender a não duvidar de quem dá sangue e suor pela pátria a troca de meros milhões e uns simples cargos públicos, mamatas e favorecimentos. Povo incréu!

Tiananmen, vinte anos depois

junho 4, 2009

O vídeo não matou as estrelas de rádio e muito menos assassinou a fotografia. Vinte anos depois, as imagens do massacre na praça Tiananmen, em Pequim, ainda impressionam e a famosa foto do Tank Man é o símbolo da luta solitária dos estudantes chineses contra a mão pesada do Estado opressor. No entanto não existe apenas uma foto, mas quatro, tiradas por quatro fotógrafos diferentes e com histórias diferentes.

Conhecemos também a força semiótica do filme feito pela BBC e pela CNN com o homem solitário se movendo para a esquerda e para a direita, tentando bloquear a passagem da coluna de tanques por algumas vezes, até o momento em que o jovem sobe num dos tanques e tenta falar com o soldado no interior da máquina de guerra e em seguida é levado por dois civis e desaparece para sempre desde então.

Mas as fotos são o instante decisivo de Bresson, onde o tempo parou e a história foi feita. Infelizmente a maioria dos chineses simplesmente desconhece a imagem e, na época, a versão oficial era bem diferente, referindo-se à nobreza dos militares chineses que “pouparam” o manifestante solitário que poderia ser destruído pela força de guerra chinesa se essa fosse a real vontade dos militares.

Versões à parte, as imagens estão aí e as histórias por trás delas são tão fascinantes como as fotografias. Para quem lê em inglês e é apaixonado por fotografia, segue o link do blog de fotografia do New York Times.

Os autores das fotos são Charlie Cole, da Newsweek, Stuart Franklin, da Magnum, Jeff Widener da Associated Press e Arthur Tsang, da Reuters, todos eles com leituras diferentes do mesmo momento. Vale a pena.

Num outro registro, também em inglês, já que não encontrei a versão legendada em português, o episódio dos Simpsons na China, bem engraçado, principalmente quando Homer está na praça Tiananmen e lê uma placa comemorativa dizendo “Neste local, em 1989, nada aconteceu”. 😉

The Simpsons 1612 Goo Goo Gai Pan

Conhecer Pyongyang

maio 28, 2009

“Lutar 100  vezes e vencer 100 vezes. Viva o Partido dos Trabalhadores de Choson que é o responsável de todas as vitórias e o guia de todo o povo de Choson”. A frase que inicia o texto é a tradução de uma inscrição que ilustra a capa de Pyongyang, um livro de história em quadrinhos do cartunista e animador canadense  Guy Delisle. Pyongyang é a minha dica de hoje, que apesar de não ser propriamente uma novidade, tem toda a atualidade, principalmente depois dos últimos acontecimentos na Coréia do Norte. Aliás, “Choson” é o nome da antiga nação formada pela Coréia do Norte e do Sul unificadas.

O livro é uma espécie de diário da estadia de Guy em território norte-coreano, onde o canadense foi trabalhar por dois meses como supervisor de um estúdio de animação local. O relato é sincero e usa o bom humor para conseguir entender diferenças culturais gigantescas e a dura realidade de uma ditadura de mão de ferro que há décadas controla o país. As linhas, que misturam a simplicidade e a fidelidade fotográfica, funcionam como cartas de um infiltrado, que a cada dia tenta entender mais sobre o local onde reside temporariamente. Realidade e ficção se misturam, num texto solitário, acompanhado apenas de seu fiel companheiro guia/tradutor, uma figura engraçada e triste de quem Guy tenta se desvenciliar por diversas vezes para conhecer a verdadeira Coréia do Norte.

Editado inclusive na Coréia do Sul, Pyongyang tem edição brasileira pela Zarabatana e conta com um extra en relação à versão francesa: duas páginas com as coordenadas geográficas dos locais citados por Guy Delisle para que o leitor possa consultar no Google Earth ou Google Maps. Uma obra fantástica, que vale a pena ler como diversão e como informação e para entender um pouco mais sobre o país que ignora o resto do mundo e que parece não precisar dele.

Pyongyang – Guy Delisle

Zarabatana Books – preço médio: 35 reais

Fixies, novo jeito de pedalar

maio 25, 2009

Ele rodava pelas ruas de Paris em grande velocidade, entre ônibus e carros, ultrapassando por vezes algumas vespas que tentavam o equilíbrio instável desviando de pedestres. Deslizava pelo asfalto com uma rapidez impressionante, o vento no rosto, o corpo da bicicleta quase desaparecia no vulto do trânsito e ele era o rei da cidade. Paris é um lugar amigo dos ciclistas mas é bom não dar muita confiança, porque é uma relação de amizade conflituosa. De repente, o sinal vermelho o obrigava a parar, porque as regras da cidade assim exigem. Mas ao invés de um leve movimento de dedos pressionando os freios da bicicleta, ele inclinou o corpo para a frente, parou de pedalar e um ruído seco foi ouvido pelos pedestres que tiraram o olhar das vitrines por um segundo e miraram o ciclista agora parado no sinal vermelho, como se nada fosse.

Não foi um acidente, tudo era esperado e planejado. Trata-se de uma Fixie, pertencente a um ciclista que escolheu um modo de locomoção ligeiramente diferente de uma bicicleta convencional. A Fixie, nome carinhoso para Fixed Gear Bike, é uma bicicleta sem freios, sem câmbio e sem frescuras, uma evolução – ou involução, dependendo do ponto de vista – da outra bicicleta que conhecemos. Virou moda nos EUA, mais precisamente em Nova York e agora começa a ganhar fãs na cidade-luz.

Os pedais estão diretamente ligados à correia que por sua vez está unicamente ligada à roda traseira. Em outras palavras, você pode pedalar para trás ou para a frente e para parar você tenta loucamente pedalar para a trás ou simplesmente bloquear os pedais com a força das pernas. Parece complicado mas olhando pessoalente é ridiculamente simples. Claro que tudo se complica quando colocamos as mesmas fixies em ruas de NY ou de Paris, cheias de cruzamentos e de carros deesesperados por um metro quadrado de asfalto livre.

Da mesma maneira que o skate ou o snowboard nos anos 80, as fixies chocam os puristas e fazem abanar negativamente a cabeça de alguns ciclistas tradicionais. De certa forma é uma anarquia espiritual, como já disse um fixie americano; a maneira de lidar com a bike, com o meio envolvente, com os outros ciclistas, com as regras de trânsito, tudo isso é relativo para um “fixie”.

Por enquanto as fixies tem um preço inversamente proporcional à sua simplicidade, por volta de 800 dólares em média, por isso talvez a fama de hype do movimento entre os descolados de NY. Em Paris, cidade cercada pelos Velib, bicicletas municipais de livre utilização (não gratuita mas com preços bem acessíveis) começa-se a falar no assunto. No entanto, aqui na França as regras de como andar no trânsito com uma bicicleta são rígidas, apesar de nem sempre cumpridas. Não sei se a “anarquia espiritual” dos bikers americanos funcionaria em pleno no meio de sinais vermelhos, motoristas resmungões, ônibus, muitos ônibus e mais pedestres, todos tentando fazer a mesma coisa em Paris: circular.

Mas por que não tentar? Pegue a bicicleta do seu irmãozinho mais novo, do seu filho, aquela pequenininha que também dá marcha-à-ré, onde ele aprendeu a pedalar (tente não quebrá-la, por favor) e vá fazer o teste na rua mais movimentada da sua cidade. Pedale com todo o gás, no máximo de velocidade e depois tente frear. Aí na sua cidade você pode ser louco, mas lembre-se que em NY você é hype. Não se esqueça de chamar a sua mãe e seu médico para assistirem. “Olha mãe! Sem mãos.. e sem freios!”. Boa sorte. 🙂

Heartless Bastards

maio 19, 2009

Prmeira dica de muitas pra quem gosta de indie rock saídas diretamente da garagem mais próxima de você nos EUA. A primeira banda, Heartless Bastards, é um quarteto de Cincinnati, Ohio, que conta com Erika Wennerstrom nos vocais, piano e guitarra, Dave Colvin na bateria e Jesse Ebaugh no baixo. O grupo, que tem as suas origens em 2003,  já começou a dar nas vistas no final de 2004, e apesar de algumas mudanças na formação desde essa época, mantém as suas bases no blues, no folk com o rock independente nas veias. Lançado pela Fat Possum Records, um selo independente do Mississipi que tinha como objetivo descobrir nomes até então desconhecidos no mundo do blues americano, o grupo faz parte da nova estratégia da gravadora de investir em bandas de indie rock. O Heartless Bastards lançou o seu terceiro álbum “The Montain” em fevereiro desse ano e está em turnê pelos Estados Unidos com uma ligeira passagem por Paris hoje à noite. Ouvindo o som da banda você se lembra de muita gente, Pixies, Sonic Youth, The Kills e talvez até – por que não –  The Raconteurs de Jack White. Grande banda pra ouvir com um copo de cerveja, numa festa com gente legal ou se a companhia não for legal pra aumentrar o volume no máximo e esquecer do mundo. Além de ser uma grande banda, a vocalista Erika Wennerstrom lembra ainda uma das minhas ídolas do mundo rock feminino, Chrissie Hynde. Abaixo uma performance dos Heartless Bastards no programa de David Letterman este ano.